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Ordem e prevenção



O Estado resguarda a ordem com a prevenção, um controle abusivo maquiado de proteção. Segue nos protegendo de um mal maior, um mal secreto. Que mal seria esse?

O mau tão temido pela ordem é a liberdade. A liberdade em todo seu esplendor ameaça a soberania do Estado, abalando as estruturas de um sistema, que se ergueu no decorrer de tanto tempo sobre os corpos moribundos de homens livres.

Sinto-me na obrigação de lhes informar, que o espírito libertário ainda flama nos restos mortais dos moribundos que aqui habita, e não adianta soar alarmes, ascender seus holofotes, ligarem suas mangueiras, pois quando levantarmos, suas estruturas bem acomodadas sob nossos corpos caíram sobre a terra.

Anarquista (?!)


Jovem agitador,

Contestador.

Que luta contra a injustiça,

Contra o poder.


Poder de poucos,

De certos indivíduos.

Mafiosos que se julgam Deus.


Fazem e desfazem,

Apenas para seu prazer.

Prazer obscuro,

Prazer oculto,

Onde a magia dominante,

É o dinheiro sujo.


Jovens se unem,

Contra a injustiça

Capitalista.

E os donos do mundo

Vem com uma armadilha

Já construída.

E com pureza forçada,

Alegam ser amigos.

Com uma frase formada:

-Este jovem é anarquista

Se este jovem não quer ser enganado,

Roubado,

Estuprado...

Dizem que tem afinidades políticas:

-Comunista,

Subversivo,


Rebelde,

Radical,

Excomungado,

Anarquista


Se lutar pela justiça,

Contra o abuso do poder comprado,

Este poder infame,

Retalhado de mentiras.

Se lutar pelos nossos direitos

É ser anarquista,

Então Mamãe,

Seu filho é um anarquista (?!)

Livro Sentimentos - maio/87 - Sidney Crivelari Ogalla

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Seres



Quando era criança um ser estranho era recorrente em meus sonhos, um ser grande constituído de luz branca; ele não me assustava, ao contrário de tantos outros, de alguma forma sabia que ele não era ameaça para minha segurança. Hoje me pergunto: O que era, ou o que representava aquela criatura de luz?

Muitos tentaram ou tentam descobrir o que são os sonhos. Outros juram que já descobriram. Mas seja ele uma experiência espiritual, ou projeções do subconsciente, o sonho possui um sentido. A busca desse sentido moveu o mundo e é o propulsor do homem. Um dia o Homem sonhou em conquistar os mares, sonhou ser mais veloz, voar, conquistar o espaço, ter poder para copiar a vida e destruí-la com o apertar de um botão. Os sonhos não iram acabar até que haja uma só alma viva no mundo.

Eu não sei o que era aquele ser de luz dos meus sonhos, talvez nunca saiba, e não sei onde possa me levar. Sei que me afetou, do contrario não estaria aqui escrevendo sobre ele, não teria recordado quando olhei para o resultado dessa foto. Recordei-me no exato momento que olhei para a foto que aquele ser tinha uma silhueta semelhante com a dessa criatura, em proporções e em ângulo de visão quase idênticos.

Às vezes meus sonhos ainda me assustam.

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Fortaleza mãe



Parece ser o lugar mais seguro do mundo, e talvez até seja. Uma fortaleza de amor em que os muros a as grades são feitas de braços e mãos, que acolhem toda sua pequenez com o carinho que só os deuses mais bondosos possuem pela suas criaturas. Lá fora o mundo desaba, mas esta a salvo pela ausência da subjetividade do seu tempo.

Invejo a relação puramente afetiva, a relação sensorial que essas pequenas criaturas possuem com o mundo, um mundo que se limita ao próximo, a presença física. Sem memória, sem julgamento, as coisas são somente o que sentimos e nada a mais.

Ó pequena criatura que está fadada a se tornar o que somos.


Não Há

(Diogo Soares / Márcio Magrão / João Eduardo / Jorge Anzol)


(...)

Não acredite na intenção não revelada

Não admita se vier a conhecer

O que não há, não é, não há

Se nunca pode vir a ser


Serei cortante como a lâmina da língua

Eu vivo à míngua do meu próprio ser

E vá crescer

Que eu sempre serei criança
(...)
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Abandonados



Um corpo largado no chão luta para sobreviver em um meio inóspito e frio.
Um corpo esconde-se em baixo da publicidade capital, em uma capital qualquer. Eu, você, todos nós. Cada um de nós é parte daquele corpo. Carrasco e executado, vítima e culpado.
Somos conseqüência dos nossos próprios atos, condizentes com o que é conveniente. Conveniente para aqueles que passam em seus casulos climatizados, habitam suas masmorras cada vez mais altas para não sentir o odor dos que apodrecem lá em baixo. Assiste no camarote a um show bizarro em três cores.
Mesmo que em três cores, que se veja então a verdade.
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O sono dos justos



Nossos passos medidos pelo tempo cada vez mais escasso.
Vencidos pelo cotidiano que ocupa espaço com suas lacunas.
Nós não nos cansamos do trivial, o trivial que nos deixa cansado.
Com seu dom de fazer tudo parecer banal, além de suas verdadeiras banalidades.
Nada intenso. Só muito rápido.
Não há tempo para sentir;
Não há tempo para viver.
Nem quando morrer haverá tempo para perceber, que a medida de nossos passos era passageira.
Não somos os passageiros, nem o trem, nem se quer as rodas...
Somos os trilhos.
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A Flor



A dona dessa flor é uma pessoa muito especial. Especial ao ponto de dedicar-lhe uma poesia de um dos meus escritores preferidos:
Se às Vezes Digo que as Flores Sorriem
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXI" Heterónimo de Fernando Pessoa
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O velho e o tempo



Um dia acordamos e percebemos que já não somos mais os mesmos, não somos mais como éramos antes. Passamos mas tempo para nos levantarmos da cama. Nossos dias são medidos pelo compromisso com os remédios, estendendo-se, prolongando nossas vidas. Há quem chame de recompensa ou experiência, eu chamo de cansaço. Espero o tempo sentado, ele passa por mim com o descaso dos vitoriosos.
A Velhice Pede Desculpas
Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.
Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.
Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.
Desculpai-me não ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.
Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.
Cecília Meireles, in 'Poemas (1958)'
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Inanimados



Figuras inanimadas que ganham vida na imaginação do infanto. Tudo tem mais vida aos olhos de uma criança, uma caixa de sapato vira carro, pedaço qualquer de pau vira a mais afiada espada. Aventuras e mais aventuras movidas pelo imaginário, que supera qualquer barreira física teorizada pelos mais inteligentes dos adultos. Nesse plano somos tudo, podemos voar, soltar raios pelos olhos, controlar o mundo com a mente... Nesse plano somos eternos. Isso me faz acreditar que os maiores segredos do universo estão na mente da criança, elas são as respostas para tudo. E se quardasse-mos parte desse espírito com nós, seriamos mais felizes, viveríamos mais; saberíamos mais; amaríamos mais; sofreríamos menos.
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Onírico



O lúdico olhar da infância permanece, mesmo que em alguns casos estejam adormecido pelo endurecimento do amadurecer. Nessa série, como fotografo, tento resgatar esse olhar no meu cotidiano e de terceiros – sejam eles os observadores ou até mesmo o próprio assunto a ser fotografado. Sempre se tratando de assuntos que remontam aspectos da infância. Devido à distância temporal ou meramente psicológica, vários trabalhos revelam um acentuado onirísmo. Desse modo intitulei o primeiro trabalho dessa série como Onírico. Esse primeiro trabalho resultou no meu fascínio pela fotografia e suas inúmeras possibilidades e interpretação do cotidiano, a possibilidade de congelar uma fração do tempo através da sua imagem; a percepção de um universo constituído de luz.
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